terça-feira, 14 de junho de 2011

A vida em um barco casa no Nilo

Michel Pastor de 68 anos, designer textil e decorador
Quando visitou o Egito pela primeira vez, nos anos 70, o designer têxtil e decorador suíço Michel Pastore, de 68 anos, ficou impressionado com os barcos transformados em habitações que encontrou no Nilo. "Queria muito morar num daqueles, mas me disseram que apenas traficantes de haxixe e prostitutas habitavam lugares do tipo", conta. Ainda assim, ele disse que foi "tão insistente" que um amigo encontrou para ele um apartamento num barco. "Adorei o lugar, por mais que fosse caro, na época, por um espaço de sete cômodos no Cairo." O aluguel de 40 libras egípcias era o equivalente a menos de R$ 13 mensais.
Quarenta anos mais tarde, Pastore está novamente morando num barco, mas em circunstâncias muito mais luxuosas. Depois de criar dois filhos no interior do Egito com Evelyne Porret, de 71 anos, sua parceira há mais de três décadas, ele sentiu falta da vida urbana e quis ficar mais perto de Nagada, a loja de roupas e objetos de decoração que mantém no centro do Cairo.
Evelyne, no entanto, não queria deixar Fayoum, cerca de 130 km a sudoeste do Cairo, onde administra uma escola de cerâmica. Assim, os dois chegaram a um acordo incomum: Pastore passa a maior parte da semana no barco, mas visita Evelyne nos fins de semana, já que ela raramente vai à cidade.
Apesar de o barco onde mora ter sido consideravelmente mais caro que o primeiro - Pastore disse ter pago por ele 700 mil libras egípcias (R$ 190 mil) seis anos atrás -, a moradia tem seus problemas. "Da primeira vez que choveu, havia água por toda parte", conta. "Percebi que ele precisava de uma reforma geral."
Foram necessários seis meses para "pensar em todas as possibilidades que o barco oferecia", disse ele, e outros seis - além de 100 mil libras egípcias (R$ 26,7 mil) - para concluir o restauro. A primeira coisa que fez foi colocar portas de correr entre os quartos e a sala, para poder instalar ar-condicionado na parte fechada do barco. Planejada com "precisão milimétrica", por causa da falta de espaço, a cozinha ganhou funcionalidade, com uma bancada ao redor da mesa de jantar e novos armários, balcões e eletrodomésticos.
O barco-casa é decorado com objetos que Pastore trouxe de suas andanças pelo mundo - a maioria foi adquirida durante as viagens de negócios para abastecer a loja. Os tecidos coloridos sobre sofás e poltronas e pendurados nas paredes são da China, do Laos, de Bali, da Índia e do Usbequistão. Dois bancos entalhados à mão já fizeram parte de uma ferramenta egípcia, puxada por búfalos, usada para cortar trigo. A cama de teca no quarto principal, montada como um quebra-cabeça que dispensa ferramentas e parafusos, veio da Indonésia.
Nas mesas e nas prateleiras, há pratos e ornamentos de cerâmica vindos da escola de Evelyne. "Morar na água nos lembra que, como o rio, nossas vidas estão sempre em movimento", disse Pastore. Mas "o barco tem agora um certo estilo, e transmite de cada uma de suas partes uma serenidade que se tornou importante para mim".

Fonte: www.estadao.com.br/noticias
Tradução de: Augusto Calil

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