sábado, 18 de junho de 2011

Os Schurmann: de velejadores a gurus!

A família que ficou famosa no Brasil inteiro por suas aventuras marítimas ao redor do mundo usa a sua expertise para treinar e aperfeiçoar as relações entre executivos, em veleiros sofisticados

Conversar com os velejadores Vilfredo, o pai, e David, o filho do meio da família Schurmann,  é como estar sentado ao redor de uma fogueira, na praia, com o vento soprando no rosto, enquanto os dois, animados e falando sem parar, contam suas aventuras em alto-mar. 
Mesmo que esse papo se refira a  um workshop sobre vivência corporativa realizado em ve–leiros Delta 32 (10,5 metros), que eles ministram a presidentes e diretores de empresas. Essa atividade foi incorporada ao cardápio de negócios da Schurmann Corporate, empresa familiar cujo CEO é David,  há cerca de dois anos. 
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Mestre dos mares: Vilfredo, "o capitão", como é chamado pelos filhos, noras, esposa e funcionários, acredita que
"é no calor da disputa de uma regata que um executivo aprende a tomar decisões rápidas"
Nada na vida deles parece ser entediante, a julgar pelos relatos de Vilfredo e do filho. Tudo é literalmente uma aventura, afirmam. Até mesmo o trabalho. Mas há um porém.  
Os Schurmann gostam de deixar claro que a vida deles é, sim, uma aventura, mas calculada, planejada e bem estruturada. Segundo a dupla, é por essa razão que executivos de empresas como a Vale, Tim, Mantecorp e banco Itaú, entre outras, têm procurado o workshop ministrado pelos dois e mais Heloísa, a matriarca dessa família que ficou famosa por duas voltas ao mundo em veleiros. 
É nessas vivências, como eles chamam, que os Schurmann passam a experiência que absorveram nas suas expedições aos navegantes do mundo corporativo. “O barco é como uma empresa. Lidamos com tempestades e calmarias, como as empresas lidam com os altos e baixos do mercado”, costuma dizer a ex-professora de inglês Heloísa. 
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Executivos de grandes empresas, como Fiat e Tim, já se aventuraram com os Schurmann em barcos de R$ 180 mil
David conta que a família se inspirou em programas semelhantes  aplicados na África do Sul e em São Francisco, nos Estados Unidos, para criar o seu próprio workshop. “Com a ajuda do consultor de empresas Alberto Barros, também velejador, adaptamos a ideia ao Brasil e imprimimos a marca dos Schurmann”, diz David. 
Barros foi um dos que ajudaram a semear a proposta desse programa no Brasil, na época em que assessorou a fusão de duas empresas concorrentes. “Ele precisava fazer os executivos dessas companhias se entender e, de repente, visualizou que colocá-los juntos em um barco era a melhor solução”, diz David. 
Depois de dois anos planejando o workshop, Vilfredo convidou  o executivo Thomas Schmall, então diretor da fábrica da Volkswagen, em São José dos Pinhais (PR), para participar do piloto do programa. 
Schmall topou e gostou tanto que, quando se instalou como presidente da Volkswagen, no ABC paulista, contratou o workshop para o treinamento de 400 executivos da montadora alemã. “Foi uma programação de fevereiro a julho de 2008, porque, em cada módulo de cerca de dois dias, só levamos no máximo 120 pessoas”, diz David.  
A Fiat foi outra montadora que recorreu aos ensinamentos dos Schurmann. José Eduardo L. Alves, Chief Accounting Officer da Fiat no Brasil, foi um dos executivos que participaram. “Foi surpreendente e desafiador. Aprendi muito sobre organização, confiança e liderança” diz ele. 
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Sabor da vitória: com David Schurmann (de camiseta toda branca), funcionários do Itaú ganham regata em workshop em Ilhabela (SP).
“Mas o mais importante foi o fortalecimento da integração entre os membros do time.” O workshop é montado a partir de um diagnóstico feito após várias entrevistas com a diretoria da empresa interessada. 
Essas conversas irão determinar que área, setor ou atividade a contratante precisa organizar, sanar ou reforçar. Feito isso, os escolhidos viajam a Ilhabela, no litoral paulista, Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, ou à catarinense Florianópolis, as bases de atuação dos Schurmann. 
“Ilhabela é o local mais adequado porque raramente falta vento e o canal, que fica entre a ilha e o continente, é ideal para quem nunca pisou num barco ou para principiantes, que não estão acostumados às altas ondas e ventos muito fortes, comuns em alto-mar”, diz David. 
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Chegando à base, o grupo assiste a uma palestra de boas vindas com David, Vilfredo, Heloísa ou com os três, dependendo do pacote que foi contratado pela empresa (veja quadro com as diferentes opções e preços). 
Nesse encontro é ressaltado o espírito de equipe e a importância do planejamento, seja para velejar, seja para sobreviver no competitivo mundo corporativo. Na manhã do dia seguinte, os Schurmann dão uma explicação teórica de 30 minutos sobre como o veleiro funciona. O próximo passo é dividir os participantes em equipes de seis velejadores. Cada grupo ocupa um barco.  
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Vilfredo e Heloísa em uma das palestras
Com os participantes em seus respectivos barcos, David, Vilfredo e Heloísa passam instruções sobre as seis funções essenciais, entre elas a do tático, responsável pela visão do que está ocorrendo em volta do barco e que irá orientar os companheiros para que lado ir. 
A aula dura apenas uma hora e meia e ao seu final os executivos já estão ansiosos para provar que entenderam tudo e vão vencer a regata. “Eles começam a se sentir capitães”, diz David. 
“Mas a primeira regata é quase sempre um desastre completo. Fazemos mais duas e determinamos o vencedor.” Os barcos competem de dois em dois em um percurso teoricamente em linha reta até uma boia, e de–pois de volta ao ponto de partida. “Teoricamente, porque, por causa do vento, um barco dificilmente navega em linha reta”, diz David. “Aí é que está a dificuldade e a beleza do esporte.” 
Após as regatas, é analisado o que aconteceu durante as provas e é feito um paralelo do comportamento dos executivos no barco com o que costuma ocorrer na empresa. Num dos grupos que receberam em Ilhabela, os Schurmann tiveram de lidar com uma questão de relacionamento. 
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CEO das velas David, o filho do meio dos Schurmann, comanda a empresa da família,
que já levou executivos de mais de 30 empresas para velejar 
Um executivo de São Paulo não se dava com outro do Rio, embora nem se conhecessem pessoalmente. A solução para eliminar o problema foi colocá-los no mesmo barco, obrigando-os a trabalhar juntos para superar o desafio da regata. 
“Eles saíram da embarcação abraçados e a relação profissional mudou completamente”, lembra Vilfredo, que já se prepara para, em 2012,  lançar-se com a família em nova aventura pelos mares.
Por Márcia Pereira

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