Ex-velejador catarinense transforma a paixão de mais de 25 anos pelo mar em milhões de reais, projetando e vendendo barcos de até 60 pés
A rebeldia do jovem de 15 anos que só pensava em velejar e acabou interrompendo os sonhos do pai – que queria vê-lo formado engenheiro mecânico –, levou o hoje empresário catarinense Márcio Schaefer, 47 anos, a se tornar um dos maiores fabricantes de barcos de até 60 pés do Brasil, com uma meta de faturamento para 2011 superior aos R$ 140 milhões de 2010.
Márcio Schaefer aproveitou a expertise de 20 anos como atleta do mar para construir
uma empresa reconhecida na Europa e que faturou, em 2010, R$ 140 milhões Por ano, Schaefer vende cerca de 200 embarcações. Dono do estaleiro Schaefer Yachts, localizado em Biguaçu, a cerca de 30 quilômetros de Florianópolis (SC), pode-se dizer que Schaefer é um homem que só pensa naquilo.
No caso, barcos. “Virei empresário por acaso. Desenhar embarcações é meu hobby e também minha profissão. Quando não estou trabalhando com barcos, estou lendo ou pensando sobre eles”, assume o empresário, que não delega a mais ninguém a tarefa de projetar os barcos que saem do estaleiro improvisado da Schaefer Yachts.
Aliás, quando indagado sobre essa condição do estaleiro, dispara a falar. Compreensível, já que a ansiedade – um resquício da juventude que parece não estar tão longe do homem engravatado – é a de quem aguarda há quase três anos a liberação de uma obra embargada por questões ambientais.
“Nosso antigo espaço está totalmente estrangulado. Este impedimento atrasou o desenvolvimento de um novo barco, a instalação das máquinas e me causou um prejuízo de mais de 100 milhões”, desabafa, mas sem perder o entusiasmo. Com investimento inicial de R$ 15 milhões, o novo estaleiro será instalado em uma área de 60 mil m2 à beira de um lago.
Enquanto espera o sinal verde para prosseguir com a construção, Schaefer criou, em Biguaçu, um centro de design. É nesse endereço que projeta de barcos sofisticados, que variam no tamanho (entre 30 e 60 pés) e no preço (de R$ 300 mil a R$ 4,5 milhões).
Lazer no mar: o modelo 500 Fly vem com churrasqueira e tevês deLCD nas cabines.
A Schaefer vende seis barcos de R$ 300 mil a R$ 4,5 milhões
O estresse de ter de administrar essa complicada questão logística, concomitantemente ao ganha-pão diário, não interfere nem um milímetro em sua paixão pela navegação. “Lançamos em dezembro a Phantom 600, com 60 pés. No ano que vem, lançamos a Phantom 800, 80 pés com a forma vinda de um estúdio italiano e que vai custar cerca de R$ 8 milhões.”
Quatro vezes campeão brasileiro na classe oceano, Márcio velejou por 20 anos. Durante esse tempo, participou de competições e travessias, largou a faculdade de engenharia mecânica e foi estudar arquitetura naval em Buenos Aires, tornando-se projetista de barcos.
Também casou-se com Raquel e teve dois filhos, Márcio e Bárbara. A fissura pelo hobby é tanta que ele acabou contaminando quase toda a família. A esposa cuida da parte financeira do estaleiro e ajuda na decoração dos barcos. O filho atua na área de planejamento e controle de produção.
“Bárbara cursou hotelaria na Suíça e reside na Inglaterra. Mas quero que ela venha assumir algo na empresa.” O relax ligado à profissão é uma constante na vida de Schaefer até quando viaja para se reciclar e se atualizar sobre as tendências, duas vezes ao ano nos EUA e Europa.
Referência de sofisticação e conforto: a performance dos barcos de Schaefer - como a lancha 500 ht (à esquerda)
e a 300 (à direita) - são apreciados em mercados como o sueco e o norueguês
“É quando mais me divirto”, diz. E, entre uma venda e uma feira, Schaefer sobe a bordo de sua Phantom 500HP e vai para o mar – rotina dos fins de semana em Florianópolis, onde mora.
No horizonte de Schaefer flutua o anseio de ver a empresa se tornar uma marca global. “As empresas da Europa e dos EUA estão em crise e fala-se todo dia em vir comprar no Brasil”, reflete.
Prestes a completar 18 anos de atividade, ele festeja o reconhecimento da marca. Suas lanchas Phantom singram os mares de diversos continentes e frequentam portos de tradição náutica, como Suécia e Noruega.
Por Letícia Moreli